quarta-feira, 13 de julho de 2011

Ela... Porque ela também é mulher... ( Eu acho)


...O som pesado do violão e a voz rouca dela adornavam o entadercer, era um tarde de inverno, e o tempo ainda estava nublado, mas ainda assim a chuva não caia, o céu era apenas uma paisagem em tons de cinza, marfim e pérola, povoando a imaginação dela que cantava mas uma vez...
A voz rouca e envolvente embalava os pensamentos de Dimbiéeri. Ele cochilava na velha cadeira de balanço. A cada nota dedilhada ele via por baixo de suas palpebras pedaços de sua juventude, o sorriso de sua amada Beladona Gervitteux, seu primeiro amor que havia falecido no auge de sua mocidade por uma pneumunia. O sorriso dela no balanço improvisado, o som da gargalhada dela. Ele recordou do pic-nic feito as escondidas as margens do rio Sena, as folhas do outono refletindo a luz de um sol intransigente que brilhava radiante em um dourado por do sol. Era belo e mágico.
Lembrou do passeio de bicicleta com as amigas de Beladona, lembrou de seu vestido vermelho e do chapéu grande demais para uma pessoa tão delicada e pequena. A fita rosa com a qual amarrava a ponta de sua trança, lembrou do perfume dos biscoitos caseiros que ela lhe preparava, do cheiro do xarope com o qual cobria as frutas que lhe servia.
...A voz rouca e melodiosa cessou brandamente, e seu violão dedilhou novas notas, mas doces, mas quentes, mas alegres, quase libertinas... e suas lembranças mudaram.
Era doce demais aquela lembrança tão remota de sua mocidade, as noites boemias em bares e cafés, bordéis e teatros das ruas de Paris, luzes e cores lhe povoaram a mente, e o cheiro, e o olhar de Alicia quase pareciam presentes de tão nitída que era sua lembrança, ela que era dançarina de um dos mais respeitaveis bordeis da França, lhe subjugou a um mundo de vicios e jogos, de álcool e música. Noites insólitas e tórridas, seguidas por uma carteira vazia e uma mente cheia de arrependimentos.
Alicia era pécado e fantasia, era a representação de tudo que era devasso em forma de mulher, as plumas, os perfumes, as jóias, o cheiro de pele e cigarro, bebidas e frutas, de amor e pécados. Sorrisos e fantasias. A lembranças eram sujas e belas, mescladas com um surrealismo poético que a saudade lhe impôs.
...E de novo, uma nova melodia, essa era branda, quase um lamento, o som do violão outrora pesado dava espaço a uma melodia mais harmônica, o som da voz rouca dela, era agora quase um lamento, tão bela...
E acompanhando a suave melodia uma nova lembrança, era a lembrança de Helena, a bela estudante de arte que o convecera que a vida é tão bela quanto abstrata, com ela viajou o mundo através da música, cinema e literatura. Aprendeu gastronomia, fotografia e a dançar, apaixonou-se diversas vezes por ela, que era uma, duas e três mulheres diferentes em uma mesma noite, ela era doce, quente e misteriosa, quando pensava compreendê-la, ela o surpreendia com um novo eu dotado de um existencialismo fantástico, com novos ideais e caracteristicas de uma intensidade quase surreal. Ela não foi seu primeiro amor, mas foi mais que a primeira qualquer coisa, ela era algo completamente diferente, ela era uma estrela, um sol vivo sob a forma humana, ela era uma musa capaz de inspirar todos os ritmos de canções, era sua borboleta em eterna metamorfose. Quanto mais ele a conhecia, mais a amava. Ele viu e sentiu em suas memórias todo o explendor daqueles dias, a morena fantástica que era Helena, pertencia a uma nação completamente diferente da sua, ele casou com ela, e foi morar no Brasil, onde se apaixonou mais uma vez, agora por uma mulher quente e viril, tão real quanto sua mãe e tão etéril quanto um fantasia, era uma Helena culta que sambava, e tornou-se mãe e esposa zelosa. Lia livros antes de dormir. Pintava telas após o jantar. E aquela melodia lamuriosa o lembrou de sua fantástica esposa.
Dimbiéeri abriu os olhos, haviam uns ultimos acordes no violão, e ainda embalado pela melodia ele viu Helena, sua única esposa, mãe de suas adoradas Meire e Camila, ela lhe estendeu a mão, ele aceitou-a, ela o olhava nos olhos, ele incapaz de balbuciar qualquer palavra, seu coração batia forte e devagar, assim como o ritmo da melodia, Helena estava exatamente igual, as longas madeixas negras emoldurando o rosto delicado, a pele amorenada brilhante e vivaz, era exatamente como em suas lembranças, ela se inclinou na ponta do pé, ele abaixou-se para receber o beijo oferecido, tão feliz, e assim, com um ultimo acorde a música acabou. E o coração de Dimbiéeri cessou os batimentos.
A morte foi doce, morena e juvenil. E ele se foi, com sua amada esposa ao caminho do "para sempre"...

...Ela colocou o violão nas costas, havia colhido mais uma alma, dever cumprido... E assim foi embora a morte... Com sua voz rouca e graciosa melodia... Entorpecer mais uma alma e trazer mais doces lembranças de uma pobre alma as vésperas da morte.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Um ultimo adeus


" Não escrevi esse texto pensando em alguém em particular, eu simplesmente deixei fluir como faço sempre, espero que tenha atingido o nivel de sentimento que deve haver aqui."











Adeus
Primeiro quero me desculpar com meus pais, que nenhuma culpa tiveram sobre o que aconteceu, vocês me criaram bem, me abençoaram com todo seu amor e cuidado, me deram uma boa educação e me ajudaram em minhas dificuldades, nunca se negaram a me ajudar, nunca me menosprezaram ou me humilharam, sempre me ensinaram a ver a vida com realismo e nitidez, sem deixar de sonhar. Os levarei comigo no coração.
Não há culpa em meus irmãos que nunca deixaram de me acolher e proteger, que sempre me ajudaram em dificuldades e me apoiaram na busca pelos meus sonhos, a vocês serei eternamente grata, eu os amarei sempre.
Não culpo meu marido sempre tão bondoso e altruísta, me ensinou a dividir e a somar, e me fez perceber que o mundo pode ser mais doce e colorido do que podemos imaginar, você me mostrou o que era amor e paixão, em um mesmo relacionamento, me fez perceber que doando tudo de si, recebe-se mais em troca do que podemos imaginar, com você eu fui realmente feliz. obrigada por me amar tão cândida e ardentemente.
A minhas filhas Ann Marrie e Marta Jenny, peço perdão por não vê-las crescer, formarem-se e também por não poder explicar a elas sobre o amor e a vida, o que querem os garotos e o que esperar da vida, peço perdão por não está presente em seus doces momentos de amor e sonhos, não secar suas lágrimas ou preparar seus enxovais de casamento. Mas eu as amei quando as olhei nos olhos, quando as toquei pela primeira vez, eu as amei mesmo quando viviam apenas em meus pensamentos. E as amarei eternamente, desejo que cumpram suas metas e realizem seus sonhos, e não percam-se no caminho em busca de suas conquistas. Vocês que nasceram de mim, viverão em meu ultimo olhar e eternamente.
Aos meus amigos e companheiros de batalhas, tristezas e alegrias, deixarei meu sorriso, minhas piadas sem graça, sem vocês não teria conquistado tanto da vida, obrigada, e nunca vocÊs falharam comigo, obrigada.
Despeço-me da vida porque simplesmente cansei de viver, hoje me ocorreu que o verde não é mais tão brilhante, que as flores não são tão perfumadas e que a brisa, outrora refrescante, já não alivia meu coração, cansei de viver, dentro desta sala, sem poder dizer a vocês que tanto amo como me sinto, sem poder sorrir as minha filhas, ou acariciar a mão de meu amado marido, eu decidi poupar-lhes da dor que lhes tenho causado, não pude brindar uma ultima vez com meus amigos, dizer a meus pais o quanto os amo, nem aos meus irmãos o quanto os admiro, não pude uma ultima vez abraçar minha filhas e dar um ultimo e ardente beijo em meu marido, por isso, mesmo sabendo que meus últimos pensamentos não se farão conhecer, eu vou, mergulho agora nos braços da morte, eu vivi feliz, eu amei, e aproveitei cada momento, sejam felizes. Adeus.


Os aparelhos registram o ultimo batimento do coração de Luiza, não havia ninguém com ela, nem mesmo uma enfermeira que só chegou minutos depois. Os médicos anunciaram a hora da morte como 17hs e 43min do dia 06 de agosto de 2010. A família se despediu em um belo funeral, para o marido a lembrança do acidente ainda era muito vivida, e ao perdê-la a dor quase insuportável, mas haviam suas filhas. E depois de meses de luto e dor. Finalmente... Luiza passou a viver novamente nas lembranças felizes e acolhedoras daqueles que partilharam sua vida com ela e que puderam superar sua morte...

Morre-se em carne, mas vive-se eternamente na lembrança de quem se importa.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

A morena de ninguém





Ela tinha o gingado, parecia uma gata de rua, não se entregava a nada nem a ninguém, era livre e sensual, tinha a malandragem no sorriso e uma imensa doçura no olhar, sabia que era bela demais. tinha os homens aos seu pés, e nunca se curvara a nenhum deles, ela inspirava paixão, instigava desejos e plantava sonhos.
Tinha os lábios rosados, carnudos e bem desenhados, um belo sorriso, longos cabelos anelados, tão negros, a cintura fina e os seios fartos, ancas largas, imensamente sensual, os olhos castanhos, o cilios longos e escuros. Linda demais, era quase nefásta, olhava-nos nos olhos, mordiscando os lábios, seduzia.
Ah, como era devassa, com nada sonhava, vivia o seu dia, dormia a madrugada, a noite era boêmia das rodas de samba, andava de bar em bar com seu jeito livre e fúlgaz, não se entregava a homem algum, somente os cortejava, deixava-os ao leo, perdidos em meio ao limbo de profundos desejos.
Falava com lentidão, cheia de gírias, era peculiar em cada gesto, a voz doce e rouca, falava baixo e tão mansinho, era tão sublime, seu perfume embriagava fácil, encantava a todos com sua meninice. Bela aos olhos de todos, era como ópio. Uma vez que se olhava, era impossivel não se deixar seduzir.
Numa noite qualquer, de um verão muito quente ela dançava, sambava na roda encatando, todos lhe sorriam, dela se embriagavam... Cada um ali desejava a morena, e no meio da algazarra surgiu tal rapaz, vestido de malandragem, tinha vinte e poucos anos, era jovem também, assim como a morena, trazia nos olhos a mesma meiguice, mas ninguém o viu, ninguém o notou, até que seu olhar encontrou com o da morena, tudo escureceu, o mundo ficou mudo, a escuridão ao redor tomou forma, a morena parou com seu samba, sentiu um estranho movimento em suas entranhas, somente ela e o tal rapaz estavam presentes, ele a cortejou, ela cedeu, ele entou no samba, ela caiu na roda, e foi assim a noite inteira, embalados pela música e pela malandragem. O dia amanheceu, a lua se foi dando espaço ao rei celeste, o encanto se defez, orapaz voltou a ser um trabalhador qualquer, deixando só a morena e seu samba...
E ela se foi com seu samba, as pernas bambas de cansaço, perdeu-se no dia e raiou, sorrindo boba e feliz, apaixounou-se a morena, mas terminaria ali, o gosto do beijo do moço, seria apenas um anelo, era criatura da noite. Nâo tinha amor algum, era só uma morena, vivendo uma vida comum...

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Essas mulheres...: Conexão

Essas mulheres...: Conexão: "Conexão Era uma manhã fria do mês de abril, ela acordava cedo para trabalhar, tomou banho, arrumou-se, tomou o café da manhã, ao sair ..."

Conexão

Conexão

Era uma manhã fria do mês de abril, ela acordava cedo para trabalhar, tomou banho, arrumou-se, tomou o café da manhã, ao sair na rua sentia-se triste, no mundo havia concreto demais. Pensava. Sentia falta das arvores, dos pássaros, do cheiro de terra e do barulho do vento...
O tempo havia passado e naquela cidade, outrora tão bela nada do ilustre verde havia restado. Ela caminhava pelo parque, umas poucas árvores haviam ali, nada que merecesse importância ou um olhar deslumbrado, o progresso tinha dessas coisas, transformava, mas nem sempre o que era para ser bom o era realmente, sua cidade era tão bela, tão verde e viva, pulsava como um coração bombeando vivacidade e esperança... Como sentia falta.
Naquele dia frio de outono, ela estava particularmente triste, não que alguém pudesse notar, mas estava, e no seu íntimo algo se encolhia, era uma miniatura de si, aquela que ninguém haveria de conhecer, seu eu sonhador. Não era feia nem tão bela, era apenas uma mulher, que linda ficava quando sorria, sublime quando chorava e seduzia quando queria, bastava um olhar fugaz e ela era capaz, mas para ela isso não era suficiente, sentia-se vazia, perdida, havia tantos pensamentos e inquietações que queria compartilhar com alguém, mas não havia ninguém especial, ninguém que conseguisse conquistar seu coração, e havia ali tanto amor para dar.
Ela entrou no escritório, cumprimentou a todos, sentou em sua mesa, ligou o computador, e pôs-se a trabalhar, tal qual um robô, aquilo tudo era tão automático. Foi almoçar com uma "amiga", alguém incapaz de compreendê-la ou aceita-la. Mas para ela era conveniente que a tivesse, pois isso não a tornava, pelo menos não diante da massa, uma esclusa social. Ela não era arrogante, ou sentia-se de alguma forma superior, ela apenas era complexa demais para a sociedade em que vivia. Ela comeu o prato especial do dia, ouviu as fofocas mais quentes sobre os colegas de trabalho, nada interessante, não para ela, tomou o habitual cafezinho a tarde com os colegas de trabalho, outro meio de se socializar, encerrou o expediente e foi para casa.
Tomou banho, comeu seu miojo de cada dia enquanto assistia a novela, terminou seu jantar, lavou os pratos, deitou-se na cama, pensava que em algum lugar do mundo alguém desejava conhecer uma pessoa como ela, adormeceu, acordou no meio da madrugada, sentia-se cansada, mas não com sono, foi assistir tv,  um filme idiota passava na tv, não lhe prendeu a atenção, resolveu escultar música... Em meio aos doces acordes que formava tal intensa melodia ela pensou:
"Haveria alguém no mundo, que fizesse o mesmo que eu? Que sonhasse o mesmo que eu e que estivesse pensado algo parecido agora, neste momento?!"
Ela levantou-se do sofá onde esteve sentada, foi a cozinha, pegou uma cerveja na geladeira, abriu, sentou-se novamente no sofá e pôs-se a beber, olhava fixo para um ponto próximo a porta do quarto, havia ali um rapaz, ou um vislumbre de um, que olhava para ela com a mesma perplexidade... Ela piscou, ele sumiu.
Ela acordou no horário de sempre, arrumou-se, preparou o café da manhã, comeu e foi ao trabalho, seguiu sua rotina de sempre... trabalho, almoço com amiga, trabalho, cafezinho com o pessoal do escritório, encerrar o expediente e voltar para casa.
Na volta para casa a velha saudade bateu, saudade das numerosas árvores que coloriam a cidade com suas diversas tonalidades de verde, saudade do barulho do vento, do cheiro de terra e do cantarolar dos inúmeros pássaros... ela parou no meio da rua distraída, olhava para o céu, as lágrimas vinheram não sabe-se de onde, inundaram seus olhos e molharam seu rosto borrando a simples maquiagem, ela limpou as lágrimas com as costas das mãos e quando olhou para frente ela o viu, novamente como um vislumbre, o mesmo rapaz da noite anterior, mas ela estava sóbria, e havia uma estranha conexão entre eles... Um casal passou a sua frente e o rapaz desapareceu naquele instante de distração.
Ela voltou para casa sentindo-se um pouco louca, achava que estava sob muito estresse, tomou um banho, preparou um sanduíche e leite, pegou um livro da sua estante, sentou-se no sofá e distraiu-se na leitura. Então uma melodia familiar tomou conta do ambiente ao seu redor e tudo mudou, sua sala não parecia a mesma, e havia alguém mais nela, na outra poltrona olhando-a com uma imensa curiosidade e familiaridade, o rapaz. ela levantou do sofá e tudo voltou ao normal.
Dias se passaram seguindo a mesma rotina de casa e trabalho, e por várias vezes nesses dias o rapaz de sua visão continuou a aparecer... sempre um vislumbre. Temia estar ficando louca, não ousava contar a ninguém. Será que era um fantasma?! Melhor não falar nada para ninguém. Enfim chegava o fim de semana e ela iria por a casa em ordem, manteve-se ocupada e não o viu. Dias se passaram e não o viu mais.
Certa vez resolveu aceitar um convite para um jantar com um colega de trabalho, eles já haviam saido algumas vezes e sempre era divertido, até que uma noite ela o convidou para sua casa, eles tiveram relações, mas não foi doce e quente, e nada daquilo a fez sentir viva, apenas lhe fez repensar tudo o que estava acontecendo, será que deveria continuar com aquela relação?! De certa forma era cômodo voltar para casa acompanhada, também era bom estar com alguém ainda que esse alguém não a entendesse. Mas ao mesmo tempo que tudo parecia bem, ela sentia um vazio crescendo dentro de si, como se tivesse sede e nada a saciasse. Então ela o viu, encostado na parede ao lado da janela, olhando para ela distraído...
O ronco do seu parceiro na cama, fez com que a visão do rapaz se desfizesse. E por muitos anos ela não o viu...
Um dia, numa manhã de abril quando ela voltava do escritório de seu advogado com os papéis do divórcio, havia passado cinco anos casada, ela repensava sua vida, estava mais madura, teve sua experiência com o casamento, não desejava a maternidade, não ainda, resolveu que ia em busca de um sonho, pois havia se entregado ao óbvio, ao que se espera que façam todas as mulheres, mas ela, diferente de tantas não conseguiria sustentar ainda mais um casamento sem que houvesse a miníma compatibilidade... Voltando para seu apartamento, agora só, ela colocou sua música favorita, abriu uma garrafa de vinho, sentou no sofá e lá ficou, refletindo sobre suas escolhas, ela lembrou do rapaz que via sempre. Pensou no que aquilo significava, adormeceu.
Acordou com o som da campainha, era sua amiga, que vinha conversar amenidades, já estava quase na hora do almoço, ela tomou banho e arrumou-se, resolveram almoçar juntas, relembrou os velhos tempos, a vida parecia força-la a voltar ao mesmo lugar de sempre. Elas passaram a tarde no shopping em meio a compras e fofocas. Não havia sentido naquilo por mais que ela tentasse encontrar. Se despediram, ela seguiu para casa.
O cheiro de seu apartamento era o mesmo de sempre, mas não lhe agradava, ela ansiava por mudança. Tomou uma decisão, fez as malas, arrumou os documentos na bolsa e dirigiu-se ainda na mesma noite ao aeroporto da capital, era uma mulher livre de trinta e poucos anos, divorciada, com uma vida cheia de possibilidades pela frente... Chegou ao aeroporto, decidiu seu destino no uni duni tê, pegou o vôo e foi em busca de um novo caminho, não havia medo, ela sabia que ir em busca do desconhecido e satisfazer a si era seu destino, e ela foi lutar bravamente em direção ao acaso...
Quando o avião aterrisou e ela desceu, sentiu-se renovada, como se tivesse transformado em uma outra pessoa, sentiu que o mundo era maior. Ela saiu pelo o portão de embarque dois, e lá vindo de outro vôo ela viu, não sabia seu nome, sua idade, mas sentia que já o vira antes, e ele a notou, e se aproximou.
- Nós já nos vimos antes?!
Ela sentia que já o conhecia, havia uma estranha conexão com aquele estranho, forte demais para passar despercebida.
- Sinto o mesmo.
 Isto foi o que ela disse sorrindo. O destino os havia conectado, e ela tinha certeza ...

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Um dia incomum... Numa vida comum.

Como todas as mulheres da minha familia, eu trabalhava fora de casa, era um emprego bom, onde eu ganhava o suficiente para viver bem, era um trabalho monótono e fácil de executar, eu não precisava correr riscos, mas também não havia opções de crescimento, em breve eu me casaria, com um bom rapaz, filho exemplar, um bom funcionário, um tanto bem sucedido, não era um homem rico, mas poderia me proporcionar conforto, eu não o amava, mas o respeitava, ele era bom e eu acreditava ser o suficiente, mas em apenas um dia, minha vida monótona, comum e devo confessar, um tanto quanto vazia, ganhou cores, ganhou melodia e brilho. Minha vida ganhou vida.
Era uma manhã qualquer, eu havia acordado cedo para preparar o café, meu pai lia o jornal sentado a mesa, enquanto eu passava o café, minha mãe estava lavando roupa, meus sobrinhos ainda se preparavam para vir comer, minha irmã mais velha ainda não havia chegado de seu plantão no hospital, meu cunhado tinha ido buscá-la, pus a mesa e nos reunimos para tomar o café da manhã. Minha família sempre fazia questão de fazer as refeições com todos juntos a mesa, no entanto aquele ambiente que deveria ser acolhedor, era sempre tenso, todos comiam em silêncio, sem ao menos um cumprimento, o único barulho na sala de jantar era dos talheres das crianças, que atrapalhavam-se tentando ser discretos para não chamar a atenção dos adultos.
Naquele dia, em que nada parecia novo, exceto os sapatos que eu usava, que o incidente aconteceu...
Eu caminhava tranquila em direção ao ponto de ônibus, não queria me atrasar pois teria um reunião com meu chefe, quando uma moto, vinda não sei de onde, passou por uma poça de água muito próxima a mim, me molhando completamente. Não xinguei o motoqueiro, pois era contra os meus princípios, em vez disso voltei para casa afim de me trocar. Eu fiz e refiz o trajeto apressadamente. Eu ia chegar muito atrasada, no entando ao menos estaria em um estado apresentável. Dei sinal assim que avistei o ônibus, sentei-me em uma poltrona do meio do ônibus, não estranhei o fato de que houvesse tão poucos passageiros naquele ônibus, visto que não estava em meu horário habitual e que eu nunca havia me atrasado, coloquei os fones no ouvido e selecionei uma música na minha playlist, era uma música tranquila, não lembrava onde a havia pegado e tampouco sabia sobre seu autor, mas era minha melodia favorita, naquela manhã, não sei porque eu adormeci no ônibus...
- Moça! Uma voz me chamava distante. - Moça! Este é o ultimo ponto, você precisa descer.
Acordei atordoada e desci apressada, somente quando o ônibus partiu eu me dei conta do que havia acontecido. Fiquei em pânico, o único sinal de civilização era o ponto de ônibus, o resto era um paredão imenso de árvores dos dois lados da estrada, me pus a caminhar na direção por onde o ônibus seguira, não encontrei sinal de viva alma por quilômetros, cansada e com sede eu sentei-me a sombra de uma árvore. Não sei em que momento adormeci, mas quando acordei estava sentada em uma poltrona muito confortável na varanda de uma casa, o estranho era que tudo aquilo era extremamente familiar para mim, eu conhecia aquele lugar, ou melhor, eu vivia naquele lugar, estava tudo muito confuso, olhei para a frente do terreiro da casa, era uma bela paisagem, um lindo jardim, muito florido, não era um daqueles jardim planejados, era como se a natureza rica daquele lugar quisesse apresentar ali toda a sua diversidade, eu respirei fundo, aspirando o perfume daquele lugar, era tão agradável estar ali, a sensação de que havia feito a escolha certa. quando tentei levantar me senti estranha, meu corpo pesava e um estranho movimento na minha barriga me fez olhar para baixo, eu estava grávida, senti vontade de gritar, mas sorri, eu tinha a estranha sensação de está presa dentro de mim mesma, mas era agradável, acariciei minha enorme barriga, outra palpitação, supus que fosse um chute e sorri, abri a porta e entrei, o cheiro da casa era aconchegante, as cores eram acolhedoras e o clima que nela havia me faziam sentir em paz, segui para a cozinha, era estranho conhecer o caminho, era uma cozinha de aspecto rústico, uma enorme janela em cima da pia, um gato amarelo e gordo espreguiçando-se no tapete da porta que dava para os fundos, um enorme pinguim em cima da geladeira, vários vegetais de fresco aspecto estavam sobre o balcão de mármore. Era uma sensação maravilhosa, de extrema satisfação. No entando meu momento de paz foi interrompido pelo barulho da porta sendo aberta, voltei para sala e uma linda menininha pulou em meus braços, os cabelos negros e anelados, a pele clara e saudável, as bochechas rosadas e os minúsculos dentes enfileirados em um radiante sorriso, aquele momento era lindo demais.
- Calma Alice, ou vai machucar seu irmão. Olhei por sobre os cachos da menina em meus braços: -Você chegou cedo meu amor. Me surpreendi falando.
- Imaginei que estivesse cansada demais para preparar o jantar sozinha, resolvi vir mais cedo para lhe ajudar. Falou um homem sorridente, meu marido.
Eu me encantei com aquele sorriso, eu o amava, ele pegou a menina nos meus braços:
- Venha Alice, vá se trocar, hoje vamos ajudar a mamãe a preparar o jantar.
Voltei a cozinha, lavei as mãe e comecei a preparar o jantar, ele me ajudava e Alice acreditava está colaborando imensamente ao dobrar os guardanapos. Aquele momento peculiar que eu vivenciava, era muito belo, e eu desejava viver intensamente daquela forma, ainda que não estivesse realmente presente, como se eu estivesse sonhando e torcendo para não acordar, para permanecer ali. terminamos o jantar e fomos nos trocar, o meu quarto era muito aconchegante, havia uma imensa quantidade de porta retratos espalhados por sobre os móveis, fotos minhas de um casamento que para mim era uma vaga lembrança, como um sonho antigo em que ora lembramos ora pensamos ter imaginado esse sonho. Era tudo surreal, perfeito demais. Tomei o meu banho, me vesti e desci, na sala algumas pessoas me esperavam, uma mulher alta e bem vestida sorria e falava alto, um homem gordo e pomposo brincava com um bebê em seu colo, dois menininhos corriam atrás de Alice, um senho idoso de aspecto saudável e sorriso gentil observava os garotos correndo, uma jovem muito bela acompanhada de um rapaz sorridente conversavam com meu marido, umas senhora idosa abotoava a camisa de um garoto, parecia ralhar com ele enquanto o fazia, já ele observava Alice com cumplicidade. Aquele ambiente familiar e feliz era onírico, como uma cálida pintura.
- Boa noite! Cumprimentei de forma a anunciar minha chegada. No momento em que eles se viraram. Tudo ficou branco.
Não sei o que havia acontecido de repente eu estava toda encharcada, olhei para trás o motoqueiro apressadinho havia reduzido a velocidade para estacionar, corri até ele e mesmo antes dele retirar o capacete eu falei;
- Quem você pensa que é? Peça desculpas por me deixar desse jeito, e olhe por onde você anda, tenho certeza que fez isso por maldade.
Eu nunca tinha ficado tão alterada.
Ele tirou o capacete devagar, com a cabeça baixa ele falou:
- Desculpa moça! É que eu havia me distraído.
Quando ele levantou a cabeça e nossos olhares se encontraram, tudo mudou, aconteceu muito rápido, eu o reconheci e ele me reconheceu, ele é, ou melhor, será, meu marido!






PS: Não sabemos como compartilhamos da mesma visão daquele dia,
o importante é que estamos juntos e seremos felizes, não sempre,
mas muitas vezes....................................................................................


Dedico esse primeiro conto, a você meu adorado pierrot, que me devolveu a inspiração^^

By Fernanda Hideto Nadi




Te encontrei...



O vento sussurrava tranquilo...
E as folhas dançavam como se verão fosse
E eu pensava nele, seguindo-o onde quer que ele fosse...
Minha mente voava alto, tão alto quanto possivel fosse.
Ela percorria oceanos, arados e pastagens...
Visitava castelos, estradas e praias
Mas não havia nada lá... o meu tesouro escondido
aquilo que eu buscava, onde quer que fosse...
eu o seguia com cálidez, imaginava-o...
inventava-o, entorpecia-me dele
Ainda que não o visse, que não o sentisse, que não o falasse...
eu o queria meu, e lhe sonhava
por entre nuvens e alaridos...
entre o caos da madrugada e a tranquila manhã...
buscava-o na música, e doía-me a alma...
porque ele estava lá mas eu não o via, não o sabia...
minha alma calava, e perdia-se no silêncio...
emudecida a esperança me cegara, e eu queria, anelava e temia...
não encontrar-te enquanto viva fosse...
te escrevia e te inventava...
estava na areia da praia... no luar e na aurora
Na fria manhã da doce primavera...
estava na brisa do cálido verão...
retumbavar suavemente por entre raios e trovões
No inverno mas mórbido, imaginava que me queria...
imaginava que me sonhava...
transcorria assim o tempo, eu desejava e não te encontrava...


Mas o tempo é justo e sábio...
aproximou-te de modo gentil...
era uma noite tranquila...
era outono...
era abril...

fechei os olhos e respirei fundo,
desejando ansiosa, poder segurando em tuas mãos...
falar com sinceridade...
- Então era ai que você estava.