domingo, 18 de agosto de 2013

Magia ao meio dia



Olhei para o aquele céu azul, tão brilhante e incomodo do meio dia, semicerrei os olhos a fim de enxergar o outro lado da avenida, uma gota de suor escorria em meu pescoço. Incomodo. Mais uma entrevista de trabalho a qual fui rejeitada, mais um fracasso, no entanto não conseguia sentir-me frustrada, eu era um ser apático, sem muitas perspectivas , planos ou aspirações, tudo o que eu desejava naquele momento, era um futuro imediato, onde eu pudesse sentar a sombra e tomar um coca gelada.
Por fim, acomodei-me em um banquinho de praça e observei as pessoas passarem enquanto aproveitava minha coca geladinha, fiquei ali pensado em bobagens, distraída, e com um leve temor de chegar em casa e ter que informar minha família de minha recente rejeição. Meus pais não eram pessoas pobres, mas eram insuportavelmente responsáveis e trabalhadores, e jamais aceitariam uma filha desocupada e patética como eu, que não quis ir a faculdade por preguiça e birra, todas as minhas economias se resumiam a meros duzentos e quarenta e um reais, os quais deveria gastar com extrema sabedoria, eu não era uma pessoa apenas preguiçosa, havia também um lado meu o qual ninguém conhecia, eu era mesquinha quando o assunto era dinheiro, mesquinha ao olhos alheios, aos meus eu era apenas ponderada, pois bem essa pessoa economicamente pobre estava sentada em uma pracinha qualquer, dessas de bairro, com algumas poucas árvores e brinquedos velhos e mal conservados, eu observava as pessoas apressadas em pleno meio dia. Imaginava o que as fazia tão ocupadas, mas no final isso não me interessava, foi quando notei uma garota em baixo de uma arvore observando-a, ela era magrinha e um tanto comprida, como se tivesse crescido rápido demais, usava um estranho vestido, típico dos anos trinta e tranças que denotavam cabelos incrivelmente longos e pretos, ela olhava para a árvore como se ela fosse uma coisa estranha, ela analisava-a, olhei ao redor e ninguém parecia interessar-se pela pequena magrela que não devia ter mais que seis anos, eu a observei por um longo tempo, então ela simplesmente saiu da sombra da árvore, mas não sem antes lançar-me um olhar desafiador e correr.
Olhei para onde ela havia ido, e notei uma mulher falando ao celular numa calçada ao lado da praça, ela segurou a mão da menina e saiu, eu não tinha notado a mãe de tanto fascínio que a filha me exerceu, terminei de tomar minha coca e segui adiante, rumo a parada de ônibus, a rua a qual seguia era do tipo residencial, no entanto haviam apenas enormes prédios, carros estacionados e passando pela rua, não havia sinais realmente humanos por pelo menos três quarteirões, continuei seguindo em frente, segurando minha bolsa firmemente pelas alças, quando vi um tumulto a frente, um possível assalto, fiquei com medo entrei na primeira rua segui rápido,  foi só quando o pânico passou que me dei conta que não sabia mais onde estava, havia o som de uma música tocada ao piano, cheiro de torta de batata, barulho de gente conversando e observando o lugar, a rua não era bem uma rua, era uma vila, com calçada de ladrilhos, casas duplex coloridas seguindo um mesmo padrão de telhado vermelho e  com varandas, umas com decoração tropical, algo bem característico já que eu morava no litoral, no entanto não parecia minha cidade, o som do piano se misturava ao barulho vindo das casas a medida em que eu caminhava, havia jardins bem cuidados, barulho de sino dos ventos e até uma brisa gostosa dando boas vindas. Continuei andando e vi a menina de tranças brincando com um gato na frente de uma das casas, quando passei por ela a vi encarando-me provocante, com um risinho no canto dos lábios, virei o rosto esnobe e segui em frente, ao final da vila percebi que bateu uma melancolia, como se eu tivesse voltado a realidade frustrante de todo dia, segui a esquerda em direção a uma movimentada avenida a qual avistara, e percebi que todo o tédio havia sumido devido aos poucos momentos vividos enquanto andava por aquela vila, quando cheguei a avenida peguei um ônibus e fui para casa, já eram duas da tarde quando cheguei, olhei-me no espelho de casa, e encarei-me, percebi naquele momento que eu não era bem um fracasso, mas só nunca havia me interessado pela vida, e vivia tediosamente por não olhá-la devidamente. Nada mudou de verdade, mas eu senti uma pontada de entusiasmo.
Há magia tudo, há magia sempre, mesmo no mais tedioso e quente meio dia...

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