sexta-feira, 29 de abril de 2011

A morena de ninguém





Ela tinha o gingado, parecia uma gata de rua, não se entregava a nada nem a ninguém, era livre e sensual, tinha a malandragem no sorriso e uma imensa doçura no olhar, sabia que era bela demais. tinha os homens aos seu pés, e nunca se curvara a nenhum deles, ela inspirava paixão, instigava desejos e plantava sonhos.
Tinha os lábios rosados, carnudos e bem desenhados, um belo sorriso, longos cabelos anelados, tão negros, a cintura fina e os seios fartos, ancas largas, imensamente sensual, os olhos castanhos, o cilios longos e escuros. Linda demais, era quase nefásta, olhava-nos nos olhos, mordiscando os lábios, seduzia.
Ah, como era devassa, com nada sonhava, vivia o seu dia, dormia a madrugada, a noite era boêmia das rodas de samba, andava de bar em bar com seu jeito livre e fúlgaz, não se entregava a homem algum, somente os cortejava, deixava-os ao leo, perdidos em meio ao limbo de profundos desejos.
Falava com lentidão, cheia de gírias, era peculiar em cada gesto, a voz doce e rouca, falava baixo e tão mansinho, era tão sublime, seu perfume embriagava fácil, encantava a todos com sua meninice. Bela aos olhos de todos, era como ópio. Uma vez que se olhava, era impossivel não se deixar seduzir.
Numa noite qualquer, de um verão muito quente ela dançava, sambava na roda encatando, todos lhe sorriam, dela se embriagavam... Cada um ali desejava a morena, e no meio da algazarra surgiu tal rapaz, vestido de malandragem, tinha vinte e poucos anos, era jovem também, assim como a morena, trazia nos olhos a mesma meiguice, mas ninguém o viu, ninguém o notou, até que seu olhar encontrou com o da morena, tudo escureceu, o mundo ficou mudo, a escuridão ao redor tomou forma, a morena parou com seu samba, sentiu um estranho movimento em suas entranhas, somente ela e o tal rapaz estavam presentes, ele a cortejou, ela cedeu, ele entou no samba, ela caiu na roda, e foi assim a noite inteira, embalados pela música e pela malandragem. O dia amanheceu, a lua se foi dando espaço ao rei celeste, o encanto se defez, orapaz voltou a ser um trabalhador qualquer, deixando só a morena e seu samba...
E ela se foi com seu samba, as pernas bambas de cansaço, perdeu-se no dia e raiou, sorrindo boba e feliz, apaixounou-se a morena, mas terminaria ali, o gosto do beijo do moço, seria apenas um anelo, era criatura da noite. Nâo tinha amor algum, era só uma morena, vivendo uma vida comum...

3 comentários:

  1. Eu gostei da imagem criada em torno da morena, uma imagem que independe do desejo dos homens, ela era bonita por si só. A sedução era o que devia acontecer, mas o seduzido não poderia ser qualquer um, isso que deu uma graça especial a beleza da mulher. E como pra toda beleza há um destino, uma pessoa pra quem essa beleza iria se entregar, que o destino sempre tem alguém reservado pra todos, o da Morena aparece tão simplesmente e certeiro que a Morena é surpreendida por estar tão entregue aquele homem novo na roda. Se a noite haveria de findar com aquele encontro não tem problema, um momento mágico aconteceu entre duas pessoas porque elas precisam se encontrar ao menos uma vez em suas vidas. Lindo conto!

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  2. Muito obrigada fou^^ como sempre vocÊ me entende e entende minha escrita, quaser que igual a mim, q medo.. sinto-me honrada com vc por aki oppa^^
    Bjos

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  3. Nossa adorei, mais q dizer diante de tao perfeita narrativa de fou?...só tenho de concordar, nanda vc escreve muito bem, tem uma excelente imaginação e criatividade, seus contos são otimos...
    bjs..

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